Vejo... pela janela... massas disformes... movimentos caóticos... sem rumos... sem direções...
Vejo, em meio a essas margens de opaco concreto, um rio de pessoas, um rio sem correnteza, em constante ebulição,
Vejo pessoas; engrenagens rodando sem sair do lugar; engrenagens girando sem saber por quê; engrenagens sem saber que máquina as comanda; engrenagens que engrenagens não sabem que são;
Vejo cabeças. Tão cheias e tão ocas. Tão ocupadas e tão ociosas. Cheias de presente. Vazias de passado. Vazias de futuro. Afogadas em deveres. Sem respirar seus direitos. À deriva da consciência. Náufragos sem reação. Sem ação.
Vejo! E tento não ver! Finjo não ver! Escondom-me da realidade da qual também participo! Participo sem participar! Sem alterar essa surrealidade real! Cômodo! Assisto a tudo sem mover-me! Estático! Consciente de minha alienação! Imóvel! Alienado em minha própria (in)consciência!
Naufrago? Engrenagem?? Rio??? Disforme???? Vejo?????